Sento
no banco da praça para esperar. Tenho alguns minutos. Ainda está claro, mas o
sol já se escondeu atrás das montanhas. Tudo tem um tom avermelhado. A
iluminação pública acentua o vermelho. Começa a esfriar. O vento forte balança
os galhos das árvores. O barulho é de chuva. Fecho o casaco quando começo a
estremecer com o frio. O tempo está mudando. Nuvens arroxeadas surgem do
horizonte e começam a encobrir as primeiras estrelas.
Limpo
meus óculos e olho em volta. Há uma multidão passando pela praça. Homens e
mulheres indo para suas casas, passando sem olhar, cansados ou preocupados
demais para reparar em qualquer coisa que não seus umbigos. Jovens indo para a
faculdade, encontrando por ali os colegas que seguem pelo mesmo caminho. Casais
sentados, aproveitando a vista e companhia um do outro. E eu vou andando.
Em
um monte de folhas mortas, vejo algo. Com o canto do olho vejo uma imagem. Suas
silhuetas se juntam para formar... O quê? Quando viro para ver melhor, a imagem
se dissolve, sai de foco. Não consigo juntar mais as folhas, formar o todo.
Parece que há algo ali, pronto para saltar. Apenas esperando o momento certo.
Mas é só um monte de folhas.
Um
aluno me cumprimenta. Um dos que sempre estão atrasados. Já escureceu. Olho no
relógio. Estou atrasado. Me apresso para chegar na sala. O vento está mais
forte. As folhas que algum jardineiro juntou se espalham por toda a praça. Vai
chover. Eu já deveria estar dando aula há uns dez minutos. Não há mais nenhuma
estrela no céu. Quando subo o primeiro degrau da escadaria, sinto uma gota de
chuva entrando por dentro da minha gola.
Não
é a minha aula mais empolgante. Não chega a ser chata, mas a matéria não ajuda.
Uns dois alunos dormem descaradamente. Mas a novidade seria se eles estivessem
acordados. Um grupinho conversa enquanto anota. Não chegam a atrapalhar e são
bons alunos. O resto da turma assiste à aula em diferentes graus de atenção.
E
acaba. Respondo perguntas sobre o trabalho final enquanto guardo minhas coisas.
Passo na cantina para pegar algo antes de ir para casa. Antes de chegar à saída
já ouço o barulho da chuva. Alunos e professores se amontoam na porta esperando
a chuva estiar ou para abrir seus guarda-chuvas. Pego o meu e vou abrindo
caminho para sair.
Um
trovão ecoa por entre as montanhas. Sigo meu caminho em direção ao carro.
Porque estacionei tão longe? O vento forte derruba as folhas das árvores e
alguns galhos mais frágeis se partem. O guarda-chuva não ajuda muito. Já estou
completamente ensopado quando chego à metade do caminho. Só espero que meus
livros não molhem. Quando o vento dá uma trégua, a praça já está coberta de
folhas, galhos e lixo.
Eu
vejo, através de meus óculos molhados, uma forma nas folhas. As silhuetas se
juntam com a distorção que as gotas nas lentes causam. Ali está o todo. É o
momento. E ele salta.
Na contramão das história que leio, o climax é o fim. Gostei.
ResponderExcluirSinto medo...
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