sábado, 19 de março de 2011

Dois dias


Eu fiquei sabendo da noticia em uma manhã. A principio, parecia tão absurda que eu não acreditei. Mas eu fui ouvindo e ouvindo e percebendo que aquilo realmente fazia sentido. Tudo se encaixava. Eu ouvi em primeira mão, em circunstâncias que não convêm explicar aqui. Não havia erro. O que eu não daria por ter uma câmera comigo quando eu ouvi aquela conversa. A internet poderia ter feito todo o serviço. Agora e tinha que ficar procurando por órgãos que pudessem comprovar minha história. A Terra seria destruída em dois dias. E eu era o único que poderia impedir.
Minha primeira reação foi correr para os jornais. A população precisava saber. Liguei para o primeiro e comecei a explicar a situação: o que aconteceria, como eu havia descoberto, o que poderia ser feito... Mas antes de eu conseguir terminar, eu ouvi o clique do telefone sendo desligado. Eu não conseguia entender. Eu tinha provas. Eu poderia levar o jornal até os culpados.  Liguei para outro. A reação foi mais revoltante. No meio da conversa a telefonista não segurou a risada e soltou uma gargalhada que veio direto até atingir o meu orgulho. Dessa vez eu que bati o telefone na cara dela.
O próximo passo foi a polícia. Dessa vez eu fui pessoalmente. Expliquei novamente toda a história para a atendente. Dessa vez ela me encaminhou para um superior. Eu fui confiante que dessa vez eu fora ouvido. O “superior” começou a perguntar sobre a minha vida, como eu havia sido criado, se eu tinha algum trauma de infância... Fiquei revoltado. Eu não estava doido. Mas até eu conseguir ser liberado daquele interrogatório inútil, levou a o resto do dia.
A noite eu só tinha a internet para divulgar minha história. Mesmo sem vídeo, postei no meu blog, no Twitter, no Facebook, e até no Orkut. Todos comentaram. Todos acharam que era uma brincadeira. Eu linkei tudo o que podia estar relacionado a iminente destruição da Terra e mesmo assim não acreditaram em mim. Mesmo com todas as provas que eu tinha bem ali, debaixo dos narizes deles, se recusavam a acreditar que aquilo realmente podia ser verdade. Eu encerrei meu dia derrotado, esgotado e, principalmente, desiludido. Eu havia tentado todos os meios que eu conhecia e nenhum me dera crédito. Não consegui dormir direito. Toda vez que pegava no sono, um sonho de destruição diferente me acordava.
No dia seguinte tomei uma importante resolução, talvez a mais importante da minha vida: Se as pessoas não queriam me ouvir, eu que não falaria mais. Tirei o resto do dia fazendo coisas que talvez eu nunca fizesse em outras circunstancias. Declarei-me apaixonadamente para minha paixão secreta, almocei com um sem-teto no restaurante mais caro da cidade, dancei no meio da rua, visitei um manicômio... Fiz tudo que consegui pensar e fazer em tão pouco tempo. Foi o melhor dia de toda a história.
Mas não foi o último.

4 comentários:

  1. Talvez a gente devesse, de vez em quando, fazer as coisas que faríamos se "hoje" fosse o penúltimo dia de nossa vida.

    ResponderExcluir
  2. hahaha sensacional!
    muito bom o seu texto cara, eu me coloquei no lugar do personagem, acho que eu faria o mesmo, iria na polícia, tentaria chamar a atenção da imprensa, mas a reação seria essa mesma que vc descreveu, me jogariam no psicólogo!
    por fim eu faria tudo o que eu gostaria de fazer (desde que não prejudicasse as outras pessoas), e se não fosse o último dia... bem, eu ia ficar bem envergonhado (principalmente se eu tivesse me declarado pra alguém e dançado no meio da rua rsrs), mas no fim eu acho que ficaria grato :)

    obrigado pela visita no meu blog, voltarei sempre aqui, muito bom seu espaço, estou seguindo!
    abs

    http://songsweetsong.blogspot.com/

    ResponderExcluir
  3. Nossa! Li seu texto pensando que faria o mesmo, do mesmo jeito. Interessante pensar que as pessoas são tão iguais, mesmo sendo tão diferentes. Adorei!!!

    ResponderExcluir
  4. Preciso te dizer, li os seus últimos texto, adorei a maneira como você escreve ... Pode ter certeza que vai me ver por aqui sempre .

    ResponderExcluir