Era uma manhã normal. Eu tinha tomado um banho, o café da manhã e estava sentado vendo televisão. O dia estava sem graça, nem frio, nem calor, o céu nublado, perfeito para se ficar em casa. Na rua, poucos carros e um ou outro ônibus passavam quebrando o silencio. Foi quando os homens sem rosto chegaram.
Começaram por avaliar cada lembrança, cada pedaço de recordação que eu tinha. Mediam, pesavam, quantificavam, sem nenhuma consideração com o significado que elas tinham para mim. E eu não podia fazer nada contra eles, apenas ficar observando eles estuprarem a minha intimidade.
Logo em seguida, eles começaram a embalar a minha vida. Pegavam os melhores anos da minha infância, as maiores besteiras da juventude, as mais importantes conquistas da maturidade e as enrolaram em plástico-bolha, papelão e fita adesiva. E ordenadamente botaram em caixas, cada uma com sua respectiva identificação.
E então começaram a levar as partes do meu eu. Pegavam, botavam no ombro e, sem nenhuma consideração, levavam para algum lugar que eu não sabia onde. Com toda a calma e ordem possível, eles levaram tudo o que era eu. Não deixaram nada, apenas uma casca vazia.
E por fim, me embalaram, me encaixotaram, e me levaram para longe.
Um texto curto, apenas para não perder a viagem, que no momento está meio difícil para mim postar qualquer coisa. Tem outro pronto, mas eu só devo conseguir postar ou segunda ou terça.
ResponderExcluirMudanças na vida, heim?
ResponderExcluirMuitas...
ResponderExcluirSeus contos são reais? Ou quase reais?
ResponderExcluirEles são sureais...XD
ResponderExcluirMuito bom este conto. Quase vi acontecer... Senti parecido em alguns momentos.
ResponderExcluir"O correr da vida embrulha tudo,
ResponderExcluirA vida é assim:
Esquenta e esfria,
Aperta, daí afrouxa
Sossega e depois desenquieta.
O que ela quer da gente é Coragem."
Guimarães Rosa
Parabéns, Gregório!
ResponderExcluirVocê tem futuro como escritor. Tem uma incrível habilidade com as palavras.