sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Ausencia

No dia seguinte, Marcos acordou de supetão. Levantou pensando no que acontecera. Estava meio desorientado, procurando achar algum motivo para o seu comportamento do dia anterior. Não achou. Não tomou café, preferiu tomar achocolatado. Como o trabalho só começava à tarde, passou toda a manhã na cama vendo TV e pensando se não deveria tirar um dia de folga para relaxar.
Preferiu ir ao trabalho. Foi de ônibus, e durante todo percurso ficou prestando atenção em si mesmo, a procura de qualquer sinal de descontrole. Quando, depois de uma viagem tensa, chegou ao trabalho, tratou de ir logo para o seu posto de vigia da fábrica. Passou o resto do dia quieto, apenas falando o estritamente necessário. Quando foi a hora de voltar para casa, tomou um taxi.
Chegou sem nenhum problema. A casa estava um tanto quanto bagunçada. A louça acumulada, do café da manhã e do almoço, estava na mesa, a cama estava desarrumada e no banheiro parecia que tinha passado um furacão. Mas Marcos não estava com cabeça para arrumar nada. Foi para a cozinha preparar algo para comer, mas só tinha miojo na despensa. Comeu miojo mesmo e foi se deitar. Ficou rolando na cama um bom tempo antes de conseguir dormir.
Quando acordou, ainda era cedo. Levantou e foi para a cozinha. Assim que entrou se lembrou que não tinha comida em casa. Tinha que ir ao supermercado. Trocou de roupa e foi. Era a primeira vez que andava a pé depois do ocorrido. Ele estava receoso de acontecer novamente, mas ele não tinha outras opções. O caminho foi tranqüilo. Ele comprou o que precisava para o dia e voltou rapidamente. Depois de tomado o café, passou o resto da manhã arrumando a casa.
O caminho para o trabalho foi o mais perto do normal possível. Não houve nenhum imprevisto e até o trânsito ajudou. Ao chegar, Marcos cumprimentou os amigos e foi para o posto. Estava com um humor melhor e falou com todos que falaram com ele. Ele relaxou e voltou para o velho hábito de tentar descobrir a vida das pessoas. Um estava de mau humor, com a camisa toda amarrotada, tinha brigado com a mulher. O outro estava com uma camisa nova e sorrindo a toa, tinha ganhado um aumento.
Na hora de ir para casa, a dúvida que o tinha perseguido durante todo o dia voltou com toda a força. Ele gastava uma fortuna para ir para casa relativamente tranqüilo ou ia a pé e corria o risco de ter outro ataque? Ônibus a essa hora não tinha mais. Ele foi enrolando a saída para ter tempo de pensar, mas mesmo assim quando ele saiu ainda não tinha certeza se tinha escolhido certo.
Ele foi passando por lugares conhecidos se controlando ao máximo. A rua estava deserta, mas dessa vez ele tinha certeza disso. Conforme as areias do tempo escorriam, Marcos ia ficando cada vez mais tranqüilo. Ao chegar em casa, ele arrumou o pouco que tinha que arrumar, comeu o que sobrara do almoço e foi se deitar. Pouco antes de dormir, percebeu que finalmente estava sozinho.

3 comentários:

  1. Finalmente saiu a segunda, e última parte do conto Presença. Ficou mais curto do que eu queria, mas está valendo. Quem não leu a primeira parte, por favor leia antes de ler essa, senão não entenderá a história.

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  2. Gostei. Mas, será que a gente "finalmente" se sente sozinho?

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  3. "As vezes, as correntes que nos impedem de sermos livres são mais mentais do que físicas".

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