sábado, 29 de outubro de 2011

Ritual


Um círculo, cinco retas, cinco elementos e cinco nomes. Ao centro, um homem. Vestido em preto e prata declamava ao mundo uma formula que servia tanto para focar sua vontade quanto para atrair a atenção do universo aos seus desejos. Com as mãos fazia os gestos que complementavam o ritual.
Era um terraço, mergulhado na luz da lua cheia e das poucas estrelas que havia no céu. Não muito grande, mas havia espaço o suficiente. Nos quatro cantos, vasos com pequenas árvores: Aveleira, Azevinho, Carvalho e Salgueiro. Apenas mudas, mas estavam presentes.
O vento soprou um pouco mais forte e limpou as nuvens diáfanas que havia. A lua e as estrelas brilharam mais forte. De algum ponto surgiu o doce cheiro de damas-da-noite. Uma coruja passou piando. E o silêncio mais uma vez tomou conta do mundo.
Um formigamento nas mãos pés e cabeça e havia terminado. O ritual fora concluído. Os devidos agradecimentos foram feitos. O circulo desfeito, mas não quebrado. Agora era a parte mais mundana, arrumar os instrumentos utilizados e se desfazer dos ingredientes consumidos. Isso tomou pouco tempo e ele então entrou na casa.
Todo rito consumia energia, mas esse tinha o deixado exausto. Foi direto ao banheiro. Ligou a água, pegou os sais e entrou na banheira. A água quente relaxava cada músculo que tocava, e os sais neutralizavam qualquer energia indesejável que tivesse sido absorvida. Fechou a torneira e ficou cozinhando lentamente enquanto essa esfriava. Só saiu quando começou a sentir frio. Destapou o ralo e enrolado na toalha foi até o quarto.
Acordou com a pele esfarelando sal. Havia dormido e sonhado com o Sol. Foi direto tirar o sal do corpo. Depois, à mesa, comeu um pedaço de melão. O suficiente apenas para esperar até o almoço. Pegou sua pasta, e saiu.
Quase não pegou engarrafamentos rumo à Universidade. Não havia aula ainda. Era o dia em que seriam anunciados os novos ocupantes dos cargos administrativos. Ele estava há muito tempo esperando pelo Departamento de História Antiga.
Achou uma vaga praticamente na porta do prédio da Reitoria. Cumprimentou animadamente todos por quem passou. E muitos corresponderam ao seu entusiasmo. O auditório era no quinto andar. Não esperou o elevador. Subiu as escadas dois degraus de cada vez.
Chegando lá, sentou-se nas primeiras fileiras e aguardou. Não precisou esperar muito e a nomeação começou. Os cargos mais baixos primeiro. As chefias de departamento seriam quase no final.
Ele pensara que não ficaria nervoso, mas a tensão começou a subir. A sub-reitora anunciava os nomes lentamente e normalmente quem era escolhido já esperava por isso. Chegou à vez do Departamento de História Antiga.
Era dele o cargo.

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