Fui a um restaurante com minha esposa. Frutos do mar. Já tínhamos nos prometido isso há muito tempo, mas a rotina havia impedido. Realmente estávamos precisando de um tempo a dois. Eu queria uma churrascaria, mas ela ganhou a discussão. Dessa vez. No carro eu dirigi. Ela ligou o rádio. E fomos a viagem inteira sem conversar. Quando chegamos, conseguimos pegar uma boa mesa, ao lado do aquário dos frutos do mar.
Foi então que vi uma linda mulher entrar no restaurante. Cabelo negro, liso como seda, preso em um pequeno coque atrás da cabeça. Uma camisa também negra, com um dos ombros a mostra, e uma calça jeans cinza. Ela estava acompanhada de um homem com o cabelo começando a ficar grisalho usando uma calça também social e uma camisa rosa claro.
Os dois vieram se sentar um uma mesa perto da nossa e pude observar melhor o rosto dela. Olhos grandes como uma noite estrelada, um nariz saído de um livro do Monteiro Lobato e uma boca discreta, mas perfeitamente proporcional. Conhecia aquele rosto. Mas não sabia de onde. O homem eu só olhei o suficiente para saber que nunca o havia visto.
Devo apenas ter a visto de passagem na rua e gravado o rosto, devido à beleza. Voltei para minha esposa. Ela estava falando sobre o trabalho e me engajei em tentar prestar atenção. De vez em quando soltava um comentário pertinente enquanto esperava a chegada dos nossos pedidos e a ocasional diminuição no fluxo de palavras.
Ainda demorou um pouco para que minha espera fosse recompensada, mas os pratos chegaram. Truta grelhada ao molho de alcaparras e camarão ao catupiry. Começamos a comer assim que fomos servidos, o que ocasionou um relativo silêncio e com isso a possibilidade de voltar a observar as pessoas ao meu redor.
No restaurante a maioria das pessoas já estava comendo e todas, pelo menos pareciam, pertencer a uma classe social privilegiada. Todos seguiam um padrão no modo de vestir. As mulheres mais jovens de jeans e camisetas, batas, etc. As senhoras, de tailleur ou vestido. Os homens se vestiam de jeans e pólo ou calça e camisa sociais, dependendo da idade. Todas as roupas, em algum detalhe, indicavam que pertenciam a uma grife.
Pedimos a sobremesa. Enquanto esperávamos a conversa tomou fôlego. Dessa vez sobre política. Eu não poderia deixar rolar agora. Tinha que defender meus ideais. A discussão beirou a briga. Apesar de casados, nossas opiniões políticas eram no mínimo divergentes, para não dizer antagônicas.
O sorvete chegou bem a tempo de esfriar os ânimos. E a conversa morreu. Os dois um pouco chateados um com o outro. Comemos em silêncio. O sorvete tinha um gosto amargo, mas comemos com resignação. Apenas para não ter de deixá-lo na mesa. Paguei a conta com o cartão dela.
Quando nos levantamos para sair, a mulher que havia visto antes também estava saindo, acompanhado do homem que a trouxera. Eles saíram na nossa frente e pude apreciar a mulher de costas. Cintura fina, quadris largos e arredondados, pernas grossas. Reconheci aquele corpo. Ele saiu pela porta do restaurante e nunca mais o vi.
Achei que algo surpreendente fosse acontecer no final....
ResponderExcluirFinais, são o seu forte. Sempre estranhos.
ResponderExcluirQuem era a mulher?
ResponderExcluirwww.evilwill.com.br
Não escrevi o texto pensando em quem seria a mulher. Isso cabe a cada leitor tentar imaginar.
ResponderExcluirVocê cria um suspense e deixa a gente esperando. Aí, nada?
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