sábado, 4 de setembro de 2010

Máscaras

Ele estava a caráter, como pedia o convite. Um terno grafite, de risca de giz, uma camisa branca frisada, uma gravata vinho de seda e uma máscara. A máscara era bem simples, completamente branca, cobrindo o rosto inteiro, presa por uma fita e com uma expressão sorridente.
Como tinha pouca gente, ele se sentia muito desconfortável. Ainda não havia a cômoda multidão na qual se esconder. As pessoas presentes estavam com amigos e ele não conhecia ninguém. O bar também não estava cheio, mas lá ele, pelo menos, sentia-se menos patético. Pediu um drinque e ficou sentado, esperando a festa encher.
Conforme passava o tempo, a pista de dança foi ficando mais cheia e ele foi ganhando confiança. Pediu mais um drinque e foi dançar. Havia vários grupos de pessoas dançando, e ele não fazia parte de nenhum. Apenas ficava andando de um lado para o outro ao ritmo da música. Não estava se divertindo nem um pouco.
A casa estava cheia agora. Não havia muito espaço para se movimentar entre os rostos mascarados. Todos estavam dançando, bebendo, conversando, flertando. Menos ele. Resolveu tomar mais um drinque. O bar estava cheio, todos os bancos estavam ocupados por máscaras mais ou menos tortas. Sentiu-se ainda pior, pois nem tonto estava.
Junto com o drinque veio uma resolução. Se divertir. Não havia ninguém conhecido, estava de máscara, era uma festa. Ajeitou a máscara e voltou para a pista de dança. Dançava muito bem e com vontade, apesar de tudo. E logo se tornou quem mais chamava atenção na pista.
E se formou um grupo ao seu redor. As pessoas começaram a dançar com ele, a falar com ele. Não sabia se era bom ou ruim, pois cada vez que alguém vinha lhe falar, ele suava, balbuciava alguma resposta e continuava a dançar. Mas, mesmo com o suor, a máscara não escorregava. Ele precisava de mais um drinque.
Quando voltou à pista, o grupo já estava formado e foi só entrar. Algumas pessoas tinham saído e outras entrado, mas ninguém o rejeitou. A música estava mais animada agora e ele voltou a dançar. As pessoas voltaram a tentar falar com ele e, com dificuldade, ele respondia. As respostas vinham mais soltas agora, efeito do álcool.
O tempo foi passando, a contagem de drinques aumentando e a conversa melhorando. Agora se apresentava, puxava assunto, dava cantadas. Ele foi se tornando o centro da festa. Ninguém o conhecia e nem se lembrava de quando ele tinha chegado, só que era divertido e dançava como ninguém.
A festa atingiu o ápice e ele passou. Ele já estava sem terno e sem gravata. A pista de dança minguando, o bar esvaziando e a hora de ir embora chegando. Ele pegou suas coisas e foi saindo. Tentou tirar a máscara que lhe cobria o rosto. Não a achou. E foi para casa com um rosto branco e sorridente.

11 comentários:

  1. Realmente um bom texto.
    É boa a ideia de fazer a máscara de tornar parte dele.
    Parabéns pela criatividade, continue assim!

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  2. Me lembrou (não sei porque) a musica 'Masquerade', do Fantasma da Ópera.

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  3. Baile de máscaras... idéia muito interessante.

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  4. Adoro baile de máscara como tema de contos. Eu sempre penso em Veneza, ou seitas secretas, ou o fantasma da ópera. Só que esse pareceu mais contemporâneo do que qualquer imagem que eu tive.

    O final foi o melhor.

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  5. Gostei do texto. Adorei o final.

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  6. de tantar "estar" passou a "ser", interessante!
    isso me faz pensar que acabamos sendo aquele ser que nos mesmos inventamos para nos esconder!

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  7. Obrigado pelos comentários e pelo apoio. Bailes de mascaras sempre foram uma grande fonte de inspiração para mim. Esse é apenas um dos muitoa textos com esse tema que eu escrevi. Se eu continuar tendo esse suporte eu talvez poste os outros.

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  8. É estilo essa coisa de um final estranho?

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  9. Não é exatamente "estilo". É o modo que eu encontrei de falar algo sem dizer diretamente. E eu sempre quero dizer algo com meus textos, logo acaba que todos os textos tem um final, que eu não diria estranho, mas sim surreal.

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  10. Muito bom o texto. Vi-me nele, adolescente e mascarável. Paulo

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