sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Diana

Cheguei ao trabalho ainda meio dormindo. A noite não tinha sido boa, fora curta e sem sonhos. Cumprimentei todo mundo e fui trabalhar. A manhã sempre era a parte mais chata do meu dia. Arrumar os livros devolvidos nas estantes. Levava quase a manhã inteira e era muito cansativo, um ir e vir interminável. Apesar de tudo a manhã passou ligeira e eu fui almoçar. Sozinho. Novamente.
Depois do almoço, eu fui para o meu posto no balcão, para atender os usuários da biblioteca. O movimento estava fraco e resolvi ler um pouco. Peguei um romance que tinha parado no meio e relaxei. Mais para o final da tarde o movimento aumentou e eu tive que parar com o livro. Não era um mar de pessoas, mas tinha bastante gente. Grande parte, estudantes com livros pedidos pelo colégio. Quanto mais trabalho, mais rápido o tempo passava e mais perto eu ficava da hora de ir para casa.
Quando a biblioteca estava quase fechando, ela chegou. Toda afobada e com um livro na mão. Ela andava rápido pela pressa, mas, ao mesmo tempo, parecia flutuar por entre as prateleiras. Era uma jovem, altura mediana, cabelos lisos e negros como obsidiana. Tinha o corpo como se esculpido pelo melhor artesão da Grécia. Os olhos azuis como águas-marinhas, a pele como marfim e a boca como rubi. Ela veio diretamente a mim para ser atendida.
Fiquei uns dez segundos sem reação antes de pegar o livro da mão dela. Eu tinha a mente em outro lugar. Quando voltei a mim peguei o livro da mão dela e percebi que era o mesmo que estava lendo. Estranha coincidência. Ao dar baixa, vi o nome dela: Diana. Um lindo nome para uma linda mulher. E antes mesmo dela sair do balcão, eu estava apaixonado. Eu sabia que era errado, que alguém não pode se apaixonar só pela aparência de outra pessoa, mas não era algo que eu podia controlar. Uma paixão que eu sabia estar fadada ao fracasso.
Eu fui para casa pensando em Diana. No seu jeito de andar, na sua voz, nos seus olhos... Odiava ficar assim. Não era a primeira vez, mas sempre que eu ficava assim era por mulheres mais acessíveis, colegas de classe, companheiras de trabalho... Mas sempre era a mesma coisa: ficava com medo da rejeição e não falava com a pretendida e quando finalmente tomava coragem ou ela estava namorando ou pior, já tinha percebido e por eu não ter falado, me achava um idiota. Fui dormir pensando que dessa vez seria diferente. Da próxima vez que eu a visse, iria tentar alguma coisa, ou eu passaria o resto da vida almoçando sozinho.
No dia seguinte, a manhã passou mais lenta que o normal, os segundos escorriam lentamente se tornando lentamente minutos que viravam horas demoradamente. A pilha de livros para colocar na estante parecia gerar filhos a cada vez que eu olhava para ela. Quando finalmente acabou, já era quase hora do almoço, e fui perguntar para o outro atendente se ele tinha visto uma mulher com a aparência dela. Não tinha.
Fui almoçar correndo para não perder uma oportunidade de vê-la. Quando cheguei me coloquei no meu posto e esperei. Esperei e esperei. Provavelmente se ela viesse, viria no mesmo horário. O pico de movimento chegou e foi embora. Ela deve ter se atrasado novamente. Estava na hora de fechar a biblioteca e ela não tinha aparecido. Ela deve vir amanhã.
O dia seguinte passou rápido como uma geleira. Fiquei esperando por uma aparição do objeto da minha paixão, mas ela não apareceu. A semana escorreu como melaço e, todos os dias, ela não apareceu. O mês passou até que relativamente rápido, mas sem ela. Quando eu vi um ano tinha passado sem que ela surgisse.
Nunca mais vi Diana, mas nunca a esqueci.

11 comentários:

  1. triste, quase enlouquecedor, esperar por alguém que nunca vai aparecer, e esperar dias e dias a fio, uma paixão devoradora e destruidora!

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  2. Acredito que muitas pessoas vivem amores deste tipo e os guardam na memória por toda a sua vida. Lindo demais o seu texto!!! Parabéns, Gregório!

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  3. Acho que todos já sofremos por esse tipo de amor... E que todos temos uma lembrança ainda não esquecida sobre os mesmos...

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  4. Obrigado pelo apoio pessoal. Isso me incentiva a continuar postando no blog, já que escrever é uma parte inerente a minha natureza. Muito obrigado mesmo.

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  5. pode escrever mais, que tu escreve bem

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  6. Oi,Grego! Gostei muito! Pois , mostra um cotidiano q de certa forma pode nos trazer surpresas. Sempre há possibilidades ... E como agir à elas ou com elas.Continuo lendo seus textos e me sentindo num filme. Esse num "tom" mais psico-emocional. Seus personagens são comuns , mas ao mesmo tempo tem um carisma , um magnetismo. Penso q talvez , vc seja assim. Tô gostando. Valeu!

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  7. Obrigado pelos elogios. É bom ver que os meus textos causam tamanho efeito. Já tinham me dito que eles faziam sentir, mas eu sinceramente não tinha acreditado. Mas mais e mais argumentos surgem em contrario, acho que vou ter que acreditar.

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  8. Muito bom, Gregório. Gosto muito desse tipo de conto. Paulo

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