O tempo estava nublado. Há pouco havia chovido. As nuvens passavam vagarosas, anunciando que talvez à noite o céu fosse ficar limpo. Já era o final da tarde e as pessoas estavam começando o seu trajeto para casa. As ruas se enchiam de gente, carros e sons. E um homem estava se levantando de sua cadeira para ir para casa.
Era uma terça-feira igual a muitas outras que já passaram. Um dia absolutamente banal no trabalho e o homem não queria outra coisa senão estar em casa. Pegou sua pasta, olhou se não estava esquecendo nada e começou a se despedir das poucas pessoas que estavam no escritório. Saiu de lá com a alma leve e a consciência tranqüila. Não deixara nada por fazer.
Pisou na rua com o guarda chuva na mão, mas a chuva já estava longe. Pelo menos não iria se molhar. O ponto de ônibus mais próximo era a dois quarteirões dali e havia poucas marquises. Ele andou despreocupadamente enquanto observava o movimento. Iria pegar uma condução lotada de qualquer jeito. Mas quando viu que o ônibus estava no ponto se apressou.
A dor foi excruciante. Por alguns minutos o mundo virou um poço de piche e ele não sabia onde estava. Só havia a dor. Mas os outros sentidos, tímidos, voltaram e ele percebeu que estava sentado no chão, com o nariz sangrando e com todos olhando para ele. Um homem se distanciava massageando uma mão suja de sangue.
Após ele repetir algumas vezes que estava bem, se levantou com ajuda e limpou o nariz com um lenço lhe deram. Havia perdido o ônibus. Pegou suas coisas e foi para o ponto calmamente e esperou o próximo passar. Pegou-o, chegou em casa, jantou, tomou um banho, viu um pouco de televisão e foi dormir.
Greg, há excelentes características nesse seu conto. Não é qualquer um que consegue realmente dar um ritmo bacana, quase uma musicalidade, à descrição de poucos momentos que acabam por consistir no conto inteiro. E não dizer o motivo do soco (soco?) levado pelo protagonista deixa ao leitor um quê de curiosidade, de modo a se deixar imaginar diversas hipóteses sobre o que aconteceu. Isso é ótimo! :) Você expõe o fato e também a possibilidade do leitor desenvolver a própria imaginação. Muito bom! ;) Beijos
ResponderExcluirTb. gostei muito. Muito muito bom demais.
ResponderExcluirEstou com fome de ler... você.
ResponderExcluirMe intriga a forma como você escreve, curti o texto, tanto como em forma e estrutura como a mensagem nele, me fez pensar. Como um dia rotineiro pode se transformar de tal forma que você jamais pode imaginar, e também me fez pensar que às vezes realmente é melhor esperar por um próximo ônibus, esperar o momento certo e não apressar nada na vida.
ResponderExcluiraaah... a imprevisibilidade da violência, seu susto, sua dor, seu momento e, por fim, sua banalização. Pode acontecer quando menos se espera e não necessariamente é preciso dar importância a isso. Pois se algo que ocorrerá a qualquer momento tentar ser evitado, se vive em função disso. A violência é, então, banalizada, no sentido de sua frequente ocorrência ou como mecanismo mesmo de defesa do homem em relação a "viver sua vida"? ou nenhum dos dois? ou nada do que eu falei tem absolutamente alguma coisa a ver com o texto? haha não sei, mas gostei, parabéns.
ResponderExcluirEu vejo algo no estilo "Clube da Luta", no sentido da ofensa, geradora de opressão, repressão usual pelo homem tentar arbitrar mesmo o mínimo o seu futuro; ele, reagindo sem reação, alterando nada na consecução do seu dia, aceita como corriqueiro algo se impor. Normal. Vivendo acostumado sob coação. Concordo em partes com o Breno.
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