sábado, 28 de maio de 2011

Violência


O tempo estava nublado. Há pouco havia chovido. As nuvens passavam vagarosas, anunciando que talvez à noite o céu fosse ficar limpo. Já era o final da tarde e as pessoas estavam começando o seu trajeto para casa. As ruas se enchiam de gente, carros e sons. E um homem estava se levantando de sua cadeira para ir para casa.
Era uma terça-feira igual a muitas outras que já passaram. Um dia absolutamente banal no trabalho e o homem não queria outra coisa senão estar em casa. Pegou sua pasta, olhou se não estava esquecendo nada e começou a se despedir das poucas pessoas que estavam no escritório. Saiu de lá com a alma leve e a consciência tranqüila. Não deixara nada por fazer.
Pisou na rua com o guarda chuva na mão, mas a chuva já estava longe. Pelo menos não iria se molhar. O ponto de ônibus mais próximo era a dois quarteirões dali e havia poucas marquises. Ele andou despreocupadamente enquanto observava o movimento. Iria pegar uma condução lotada de qualquer jeito. Mas quando viu que o ônibus estava no ponto se apressou.
A dor foi excruciante. Por alguns minutos o mundo virou um poço de piche e ele não sabia onde estava. Só havia a dor. Mas os outros sentidos, tímidos, voltaram e ele percebeu que estava sentado no chão, com o nariz sangrando e com todos olhando para ele. Um homem se distanciava massageando uma mão suja de sangue.
Após ele repetir algumas vezes que estava bem, se levantou com ajuda e limpou o nariz com um lenço lhe deram. Havia perdido o ônibus. Pegou suas coisas e foi para o ponto calmamente e esperou o próximo passar. Pegou-o, chegou em casa, jantou, tomou um banho, viu um pouco de televisão e foi dormir.