Hoje era o grande dia. Eu passara mais de um mês jogando indiretas, cantadas sutis... Enfim, dando mole. Garota difícil. Mas eu consegui marcar um encontro, longe dos amigos, da faculdade... Só nos dois. Tudo estava calculado nos mínimos detalhes para dar certo. Eu iria esperá-la na praça e, depois de algumas voltas, levá-la a um restaurante próximo.
Eu tinha que me apressar. Eu tinha marcado as seis, mas eu queria chegar lá antes, para não ter nenhuma surpresa desagradável. Eu saí de casa e fui para o ponto de ônibus. O céu estava lindo, com algumas nuvens douradas no horizonte, prenunciando chuva. Eu não estava levando guarda-chuva, mas esperava que até começar a chover eu já estivesse dentro do restaurante. Depois eu veria como fazer.
O ônibus demorou a chegar. Eu fiquei olhando meu relógio de minuto em minuto. Quando ele chegou, ainda tinha tempo de sobra para chegar a tempo. Na curta viagem, eu fiquei apenas pensando nela. Em seus cabelos de noite, em sua pele de mármore, em seus olhos como uma mata inexplorada. Quase que eu perco o ponto, perdido em meu devaneio.
Cheguei quinze minutos antes do combinado. A praça estava começando a esvaziar. As babás com as crianças já estavam indo para casa, pois começava a escurecer. Os primeiros casais apaixonados apareciam e eu mal acreditava que logo eu poderia ser um deles. Os minutos passavam como lesmas e eu os contava um a um. O chão sob os meus pés foi pisoteado muitas e muitas vezes antes que chegassem as seis horas.
E quando chegou a hora combinada, depois de quilômetros percorridos sem sair do lugar, ela não apareceu. Eu olhei ao redor a procura do menor sinal dela e nada. Eu via os casais andando pela praça, sentando nos bancos, e eu sozinho, esperando. Mas um pequeno atraso não é nada. Ninguém chega sempre na hora. Eu olhei o céu. As nuvens estavam encobrindo o que restava do dia. E agora havia pouca claridade.
Cada minuto que ela atrasava fazia com que o tempo passasse mais lento, em uma progressão geométrica enlouquecedora. Eu esperava impacientemente por ela. Todos os casais estavam se dirigindo a algum lugar. Eu liguei pela primeira vez para ela. “O número que você discou se encontra desligado ou fora da área de cobertura”. Mas ela vinha, eu tinha certeza. O céu estava completamente negro agora, o dia já tinha se extinguido e as nuvens haviam coberto tudo.
Começou a chover. As gotas caiam lentamente, molhando devagar, mas sempre. Eu olhei para os lados. Não havia um único lugar onde eu pudesse me abrigar. Todos os casais haviam ido embora. Liguei mais uma vez. Ela devia estar presa em um engarrafamento, ou tinha perdido a hora. Ouvi a mesma mensagem. E eu estava ali, sozinho, parado, e esperando.
A chuva havia virado uma tempestade. Não havia para onde correr. Eu escorria água. Raios cortavam os céus. Relâmpagos iluminavam a noite. Trovões estremeciam os vidros das casas. O vento chacoalhava mesmo os galhos mais fortes das árvores. E eu continuava esperando. Ela viria, eu tinha certeza. Agora eu não tirava o ouvido do celular, mas a mesma mensagem se repetia sempre.
Vejo as horas. Oito e meia. Olho em volta. Nada. Ela não vem. A tempestade começa a passar. Eu me dirijo ao meu ponto. Pego um ônibus. Vou para casa.
Tanta produção para absolutamente nada! Foi cena de clipe, cena de curta-metragem. A descrição foi boa.
ResponderExcluirMulheres quando não querem nada são piores que homens, pq não tem coragem de se desfaze totalmente, então acontece cenas como essas aí.
ResponderExcluirwww.teoria-do-playmobil.blogspot.com
Gregório, adorei seu blog! =)
ResponderExcluirGostei das últimas frases do post... "Ela não vem. A tempestade começa a passar... Vou para casa." - Muito bom! =]
beijoss e até ^^
Gostei do final, quando vc muda o tempo verbal. Aliás, adoro seus textos!!!
ResponderExcluirTambém gosto de seus textos. Sempre finais interessantes.
ResponderExcluirJá estou esperando mais.
ResponderExcluirDesta vez, o fim não foi tão bom assim... o final da história, mas como final de texto, arrasou.
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