Estou funcionando. Faço tudo que preciso. Não tenho nenhum problema.
Nenhum perigo. Exatamente às dez horas, de manhã e a noite, eu engulo um
pequeno pedaço amargo de sanidade. E é o que preciso para continuar assim. Todos
comemoram.
Mas que motivo há para eu comemorar? Funcionar se tornou sinônimo
de viver? Precisar de querer? Minha vida é um relógio. Eu um ponteiro. As pílulas
o mostrador. Só quem está de fora consegue apreciar a bela obra de engenharia
que sou.
Eu olho para a cápsula na minha mão e tento lembrar o que ela
me trouxe. Desisto antes que isso me lembre o que ela levou. Engulo-a seca e de
uma vez. O mundo precisa de bons relógios.